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Benfilstraps: correias com selo nacional

por Miguel Seabra , Espiral do Tempo em

Nunca a relojoaria deu tanta importância a correias e a braceletes como hoje em dia — e isso ficou bem patente na recente Watches and Wonders. Em Portugal, algumas marcas portuguesas têm-se destacado nos últimos tempos, com produção nacional de qualidade e uma oferta cada vez mais alargada. Como a Benfilstraps.

Os aficionados puros e duros sempre deram grande importância à maneira de vestir os seus preciosos relógios — e, durante muito tempo, mostraram mesmo dar mais importância do que as próprias marcas. Esse cenário mudou sobretudo ao longo dos últimos cinco anos, com as companhias relojoeiras a investirem muito em sistemas de troca rápida de bracelete e a venderem mesmo relógios acompanhados de duas e até três alternativas. Porque finalmente houve a consciência de que a troca de uma correia ou bracelete pode mudar completamente a personalidade de um relógio e adequá-lo melhor a diferentes circunstâncias/exigências.

As correias e braceletes são os acessórios de relojoaria mais procurados | Foto: José Zenha

Ou seja, já não existe aquela ideia errada de que usar uma correia diferente da que surge no catálogo oficial é estar a adulterar o relógio ou equiparar essa mudança com os tunings de mau gosto. É por isso que têm proliferado novas firmas dedicadas a acessórios para relógios em geral e a correias/braceletes em particular, a par de tradicionais marcas especializadas no setor (até porque normalmente o produto equivalente das marcas de relógios é sempre mais caro quando muitas vezes o fornecedor até é o mesmo ou a qualidade idêntica). E Portugal não é exceção, entre empresas como a Watch Garage e companhias exclusivamente dedicadas a correias/braceletes.

O couro de origem bovina é a pele mais procurada | Foto: José Zenha

Em Portugal, a Suberskin tem desenvolvido uma coleção de braceletes e acessórios de cortiça de grande qualidade. A Nortespring é uma jovem empresa nortenha que tem ganho alguma tração, contando com alguma produção própria. E a Benfilstraps tem crescido na variedade de oferta, procurando expandir o seu catálogo com correias feitas em pequenos ateliers nacionais; conversámos com o seu responsável, Miguel Conceição, para conhecer um pouco melhor os segredos por trás de uma empresa do género e quais os seus desafios.

Correia Benfilstraps num IWC Big Pilot | Foto: José Zenha

«A Benfil é uma empresa familiar com mais de 20 anos de atividade dedicada ao comércio a retalho de artigos de relojoaria», refere Miguel Conceição. «Em 2017 assumo o comando da empresa e começo a olhar para os relógios e correias de uma maneira diferente. A Benfilstraps nasce essencialmente da necessidade que eu próprio senti em procurar uma alternativa às correias que circulavam no mercado de então. Tive a sorte de conhecer os parceiros ideais para a realização das minhas ideias, aqui mesmo neste nosso país à beira-mar plantado. Todas as correias da Benfilstraps são fabricadas em Portugal».

Seleção cuidada das melhores peles nacionais | Foto: cortesia Benfilstraps

Obviamente, o fabrico de correias deve obedecer a princípios muito específicos — não se trata de um qualquer pedaço de pele que se pode acoplar a um relógio. «Para mim, uma boa correia tem obrigatoriamente de ser concebida com peles genuínas (se naturais tanto melhor, mas isso são outras contas…). Atrevo-me a dizer que um bom forro (lining) é ainda mais importante do que a pele de cima (surface), pois é o forro que permite à correia ser consistente e confortável/maneável ao mesmo tempo. Dou cada vez mais valor ao rigor de construção da correia. Um corte completamente homogéneo, uma costura perfeita e um acabamento lateral sublime fazem toda a diferença. Embora haja outras técnicas, esta técnica de acabamento lateral é a usada pelos meus fabricantes. E hoje em dia também não dispenso o sistema de molas quick-release numa correia para uma troca rápida sem recurso a qualquer utensílio», revela.

O forro, parte fundamental para a qualidade de uma correia | Foto: cortesia Benfilstraps

Tradicionalmente, as peles naturais usadas na relojoaria ao longo das décadas são o couro e o crocodilo/aligátor (para relógios mais formais), sendo que o lagarto parece estar a regressar. Atualmente, a variedade é cada vez maior, embora haja uma forte tendência para usar cada vez menos peles de animais exóticos. E na Benfistraps? «A quase totalidade das peles usadas na Benfilstraps são peles de origem bovina, grande parte já com tratamento 100% vegetal (sem metais pesados). Normalmente, as correias com padrão são gravadas (embossed), mas também tenho acesso outras peles naturais — por exemplo, o aligátor, através do meu fabricante (o Atelier da Bracelete), respeitando as normas da CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção). Já se fizeram algumas por medida e ficam fantásticas», diz Miguel Conceição.

Novo visual para um cronógrafo Chronoscope da Junghans | Foto: José Zenha

Uma coisa é satisfazer profundos conhecedores da relojoaria, outra é fornecer correias a quem quer apenas substituir uma que já está deteriorada. A diferença de exigência entre a venda a retalho em geral e os aficionados em particular é acentuada. «Tenho essas duas realidades na minha vida profissional e são bem diferentes. Diria que os aficionados, tal e qual como eu, apreciam a sublimação e rigor impostos numa correia. Já o utilizador regular da venda a retalho aprecia mais o fato de serem o mais económicas possível — não quero dizer com isso que também não procurem alguma qualidade», salienta.

A qualidade das linhas e da costura é uma vertente essencial | Foto: cortesia Benfilstraps

E esclarece: «O aficionado normalmente gosta de correias mais tapered (por exemplo, um afunilamento de 20mm entre as asas do relógio para 16mm na fivela) e baixinhas, enquanto a venda a retalho mantém as coisas mais tradicionais. Outra aspeto diferenciador são as cores; o comércio a retalho aposta mais no preto e castanhos, um azul aqui, um branco ali — enquanto para o aficionado quanto mais diferente for a pele, mais encantadora se torna a correia, e se possível uma ou outra extravagância na costura tanto melhor. Diria que o aficionado (como eu) procura sempre um pormenor ‘fora da caixa’  para condizer com algo presente no mostrador do relógio, ou nos ponteiros, etc. No entanto começo a ver os dois mundos a aproximarem-se a pouco e pouco, talvez porque o número de pessoas que gostam mesmo de relógios tenha aumentado bastante».

Bons acabamentos fazem sempre toda a diferença | Foto: cortesia Benfilstraps

A Benfilstraps tem várias linhas de correias no seu catálogo, uma mais populares do que outras. «A correia mais vendida na Benfilstraps é o modelo Nairobi. Correia baixinha, sem enchimento, pele lisa, apenas com o pormenor dos pontos laterais cosidos à mão. É uma correia de estilo vintage, que combina bem com relógios mais antigos, mas que ao mesmo tempo tem a capacidade de realçar ainda mais um relógio de design moderno se for o caso. Diria que é um dos meus modelos favoritos também».

A produção da Benfilstraps é exclusivamente feita em Portugal | Foto: cortesia Benfilstraps

Esse tipo de correia de estilo vintage com costuras laterais (ditas ‘mosca’) ganhou tanta popularidade junto dos aficionados que passou mesmo para o mainstream, sendo opção por parte de muitas marcas há já vários anos. Que outras tendências têm emergido? «Felizmente, além da pesquisa que naturalmente faço, tenho a sorte de ter amigos aficionados por relógios e correias que me vão mostrando o que se passa além-fronteiras ao nível das tendências. Diria que estou bastante entusiasmado em desenvolver modelos que vão de encontro às peles utilizadas atualmente pelas grandes marcas (Saffiano, Epson, lagartos, etc) e às cores que estão na moda. Sinto que lentamente, mesmo cá em Portugal, a correia está a deixar de ser apenas o que segura o relógio ao pulso para se tornar num acessório de moda. Queremos conjugar a correia com a camisola, com o sapato… hoje levar uma correia mais clássica, amanhã outra mais desportiva, etc. A meu ver, a correia é o que realmente pode diferenciar o relógio e dar-lhe alguma identidade».

O modelo Nairobi de tipo vintage é o mais procurado | Foto: José Zenha

Miguel Conceição destaca um parceiro especial: «O Atelier da Bracelete é uma das empresas com quem trabalho e diria que o artesão André Carvalho é uma peça fundamental no projeto Benfilstraps. Conheci o André numa fase muito embrionária do seu trabalho, mas rapidamente identifiquei nele pormenores que sabia que poderiam fazer a diferença num futuro não muito longínquo. O facto de ser um perfeccionista por natureza faz com que a procura por novas técnicas de fabrico seja uma constante! Diria que, neste curto espaço de tempo em que trabalhamos juntos (cerca de quatro anos), as correias dele atingiram uma sublimação ao nível das grandes marcas, só se diferenciando quanto a mim na gama de materiais usados. É sabido que, nas marcas de referência, a grande parte das correias é feita com peles exóticas — como o aligátor, galuchat ou lagarto — e isso faz toda a diferença. Mas, tendo em conta o mercado em que estamos inseridos, ainda não nos fez sentido avançar para esse patamar. No entanto, e como já referi antes, estão em cima da mesa projetos como modelos novos com peles exóticas e outros materiais, modelos diferentes, edições limitadas, etc».

Técnicas artesanais e artesãos especializados | Foto: cortesia Benfilstraps

Vale a pena, investir numa tal indústria tão específica num país pequeno como Portugal? «Sinto que para a Benfilstraps o caminho ainda é bastante longo e sinuoso. Somos uma microempresa num país pequeno, portanto seria necessário este nicho de aficionados por relógios e correias aumentar substancialmente para o negócio expandir cá dentro. Acho que a alavancagem do negócio poderá passar por ir além-fronteiras. É um dos meus objetivos, levar as correias portuguesas para fora, mostrando a qualidade de fabrico que temos, à semelhança dos sapatos, etc. Penso que uma parceria com uma marca de relógios também podia ser muito interessante. Iria obrigar-nos a sublimar ainda mais o trabalho. O on-line é a montra ideal para tudo isto, vamos ver o que o futuro reserva. A minha cabeça não para; tenho a sorte de os fabricantes com quem trabalho serem malucos como eu e correrem logo para ir arranjar a pele de que lhes falei, mandar fabricar o cortante para modelo na fotografia que lhes enviei, etc. Penso que coisas boas nos esperam no futuro, só temos de continuar a trabalhar com o máximo de qualidade e rigor possíveis».

Benfilstraps: produto nacional e qualidade à portuguesa | Foto: José Zenha

O catálogo da Benfilstraps contempla oito diferentes linhas de correias de pele e ainda variantes para Apple Watch. Para além de múltiplas relojoarias em todo o país, comercializa a sua coleção através do seu site oficial em benfilstraps.com.

Por fim, aqui deixamos uma galeria com bonitas fotos que destacam correias Benfilstraps com um belo pano de fundo:



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